O moderno Antonioni, o profano Pasolini, o desolado Antonioni, o provocador Pasolini, nella storia: Antonioni e Pasolini. Assim mesmo, uma secção apresentada ao ritmo de um genérico cantado, inspirados pelo grande Ennio Morricone, como nas cantigas ao desafio. Os intérpretes não deixarão o outro sem resposta, e se as palavras serão as dos autores, o diálogo improvisado será nosso. Do lado de Pasolini, já se baila com as primeiras notas do contrabaixo da ricotta twist de Carlo Rustichelli. Antonioni responde com Giovanni Fusco e o seu twist do eclipse. Bruno Cortona, ou melhor, Vittorio Gassman, interrompe esta história em plena “A Ultrapassagem” de Dino Risi para perguntar a Jean-Louis Trintignant: viste "O Eclipse"? Eu adormeci. Foi uma bela sesta. Uma viagem interior com destino à imagem verdadeira daquela absoluta e misteriosa realidade que ninguém há-de nunca ver, é a minha proposta, remata Antonioni. E a humanidade, para onde vai? Pergunta Pasolini em “Passarinhos e Passarões”. As personagens não falam em “A Aventura”, mas por exemplo, em “A Noite”, falam mas o resultado nem por isso é diferente, esclarece Antonioni. Desde “O Grito” que percebemos que para ti o silêncio angustiado do humano contemporâneo prevalece sobre tudo. O meu único ídolo é a realidade, acrescenta um categórico Pasolini. A minha “Mamma Roma” tem explicitamente, ainda que de forma primitiva, uma certa problemática moral, uma angústia mortal, que compartilha com “Accattone”. Há pessoas que se adaptam, e outras que ainda não o fizeram porque estão demasiado ligadas a ritmos de vida que estão agora ultrapassados, contrapõe Antonioni. Os teus personagens, não sabem que são personagens angustiados, não se colocaram, senão através da pura sensibilidade, o problema da angústia, responde-lhe Pasolini. Sofrem de um mal que não sabem o que é. Pois tu serás vítima dos teus próprios personagens, murmura um contemplativo Antonioni. Monica Vitti, num glorioso close-up, desafia o espectador: e se o que Diderot disse era verdade, que podemos comunicar uma emoção sem a sentir? Ou devemos senti-la no mais fundo do nosso ser para poder exprimi-la? (Hugo Romão Pacheco)
Aldo, um operário, mantém uma relação com Irma, de quem tem uma filha. Após receber a notícia da morte do marido, Irma decide deixá-lo. Aldo parte com a filha para uma deambulação pela região, ao longo da qual encontra várias mulheres, sendo confrontado, simultaneamente, com a sua alienação sentimental. A paisagem como reveladora dos sentimentos, no cinema de Antonioni. O que se adivinhava já em "Cronaca Di Un Amore" tem aqui o seu momento de transição para a famosa trilogia da alienação aberta com "L''avventura".
Vittorio, conhecido como Accattone (calão para “pequeno meliante”), habita os subúrbios de Roma e leva uma vida marcada pelo ócio, como chulo, enquanto explora a namorada Maddalena e passa o tempo com os seus companheiros. Mas quando Maddalena é maltratada por elementos de um bando rival, por ter denunciado um dos seus, acaba na prisão e Accattone fica sem meio de subsistência. A primeira realização de Pasolini, já conhecido como romancista, poeta e argumentista. "Accatone" tem por tema os jovens marginais dos bairros de lata de Roma e os expedientes que usam para sobreviverem, muitos destinados a um fim trágico.
"Mamma Roma" é o segundo filme de Pier Paolo Pasolini. A partir de uma história melodramática de uma prostituta de Roma (Anna Magnani) que tenta dar uma vida digna ao seu filho, Pasolini constrói um filme com uma extraordinária dimensão poética e social. Na altura da sua estreia, “Mamma Roma” foi proibido em Portugal, ressurgindo nos circuitos comerciais apenas em 1992.
"Itinerário sentimental de um par" (nas palavras do realizador), L'Avventura é o primeiro filme da famoso trilogia antonioniana sobre a "alienação". Uma mulher desaparece durante um cruzeiro no Mediterrâneo. O namorado e uma amiga tentam encontrá-la e acabam por tornar-se amantes. Um filme em que a paisagem é um prolongamento dos estados de alma. "Este filme, em que muitos espectadores entusiastas viram uma justificação para o seu desespero, ou pelo menos para o desencanto, fez-me entrever com grande alegria os prazeres inefáveis da liberdade. Basta para isso sentir-se um pouco mais adaptado a essa liberdade como as personagens do filme" (Henri Crespi, Positif).
Um conto alegórico estreado em Cannes com o lendário Totò com um desempenho memorável. Enquanto se deslocam pela estrada fora e através do tempo, com uma incursão à época de S. Francisco de Assis, Totò e o seu filho (Ninetto Davoli) encontram um corvo falante (e intelectual de esquerda) que os acompanha na digressão e vai comentando as peripécias que se sucedem de uma forma que o torna insuportável, pelo que os nossos heróis serão forçados a tomar uma medida drástica. "Uccellacci e Uccellini" é o filme "mais vulnerável, mais delicado e mais "secreto" de Pasolini."
Vittoria termina um relacionamento amoroso com Riccardo, um intelectual, e envolve-se com Piero, um agente da bolsa. Elegia sobre a inconstância do amor, adágio amargurado, O Eclipse é de Monica Vitti, incomparável e espantosa, a despedir-se também do célebre preto e branco do director de fotografia Gianni Di Venanzo, num filme que encerra uma trilogia, ao lado de "L'Avventura" e "La Notte".
Psicologicamente abatida e insatisfeita, Giuliana envolve-se com Corrado, colega do seu marido, que dirige uma fábrica. Mas não consegue apaziguar a sua inquietação. O primeiro filme a cores de Antonioni marca também a sua passagem dos dramas sociais subjectivos para a representação do mundo através dos olhos da protagonista, interpretada por Monica Vitti. “É muito simplista, como alguns o fizeram, dizer que acuso este mundo industrializado, inumano, onde os indivíduos são esmagados até à nevrose. Pelo contrário, a minha intenção foi traduzir a beleza deste mundo onde mesmo as fábricas podem ser muito belas.” (Michelangelo Antonioni)
Drama bíblico inovadoramente naturalista e despojado, com a vida de Cristo recontada a partir do Evangelho segundo Mateus. As parábolas, os primeiros discípulos, a revolta, a determinação, os milagres, a intolerância, a solidão e a impaciência. Assim Jesus conseguiu uma legião de seguidores e inimigos, segundo o Evangelho de São Mateus. Nesta obra maior, o realizador italiano Pier Paolo Pasolini apresenta-nos um Cristo completamente distinto do estilo ‘épico’ com que o cinema o vinha caracterizando; um Cristo solar que se faz acompanhar da música de Bach, enquanto a Virgem é interpretada pela mãe do próprio autor.