Paisagens Temáticas

Família Cinema

A família no plural, reunida na tela do observatório. Aquela que se junta à mesa e “cada um traz aquilo de que é capaz e depois fica o melhor”, descrição da autoria de Paulo Rocha para caracterizar o seu cinema, cujo percurso é recortado e colado pelo olhar dialogante de Samuel Barbosa em “A Távola de Rocha”. Uma outra do futuro, a de “A Vida Depois de Yang” de Kogonada, onde um pai e uma mãe vivem com a filha adoptiva e um andróide, e através dos olhos deste ser não-humano - da sua memória tecnológica -, veremos o mundo, a identidade, também aqui numa forma que indica mais-do-que um, humana e cultural, em diálogo entre si. O (re)encontro de uma filha com a sua mãe a pretexto da rodagem de um filme em “Jane por Charlotte”, e a câmara que parece tornar possível uma intimidade nunca antes compreendida entre Jane Birkin, Charlotte Gainsbourg e as suas memórias - o cinema como documento de um tempo. “As Irmãs Macaluso”, observadas pela lente de Emma Dante que nos mostra cinco décadas da existência de uma família de mulheres órfãs, de ancestralidade comum, vivem debaixo do mesmo tecto que envelhece, tal como elas, vidas congeladas num único instante como almas amaldiçoadas num conto de fadas. Três gerações de ciganos num baile desenfreado nas margens do Danúbio em “Gato Preto, Gato Branco”, de Emir Kusturica, através do qual o realizador pretendeu "transformar toda a sujidade do mundo num conto de fadas”, o retrato de uma cultura que refresca a nossa forma de ver a vida. Por fim, uma nova geração de adolescentes que se lança em “Gritos” de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, na linhagem de uma saga bem familiar com o terrível mascarado e as mortes recriadas dos clássicos do cinema de terror. (Cristina Coelho)

A Távola de Rocha

de Samuel Barbosa

Dia 15-10 15h00 (PA)
Presença de Samuel Barbosa e Francisco Noronha
(Portugal, documentário, 2021, 90 min) M/12

“A Távola de Rocha” vai buscar o título a uma declaração do próprio Paulo Rocha, equiparando o seu cinema a “uma mesa onde cada um traz aquilo de que é capaz e depois fica o melhor”. “Fiz uma interpretação literal dessa frase, porque observei sempre o Paulo a ter um grande respeito pelos seus técnicos e pelos seus actores; considerava-os os melhores e tinha essa convicção”, diz o realizador Samuel Barbosa, que foi assistente de realização de Rocha. Este filme assume abertamente a “rima” formal com a abertura e o fecho de “A Ilha dos Amores”: “Procurei fazer alguma justiça à sua fase ‘modernista’ [posterior a “Mudar de Vida”]. Senti que a colagem que ele acaba por incorporar nos seus filmes também me servia, e tentei dialogar com aquilo que o Paulo tentou fazer durante a maior parte da sua vida.”

A abrir a sessão, Reconstrução (2022, 14 min) de Francisco Noronha: Num país-em-obras, a cidade vai engolindo paulatinamente os campos, movimento sintonizado com o processo de urbanização da Europa do pós-2.ª Guerra Mundial, e de que o neo-realismo italiano foi possivelmente a sua original testemunha. Eis, então, uma putativa genealogia do cinema português contada a partir de um locus particular: as Colinas como último reduto do campo/Natureza para os amantes à margem da Cidade, lugar paradoxal entre o escapismo e a introspecção, promessa de felicidade e frustração, que marcará todo o cinema português desde o Cinema Novo.

A Vida depois de Yang

de Kogonada

Dia 16-10 15h00 (PA)
Presença de Luís Miguel Oliveira
After Yang (EUA, ficção, 2021, 95 min) M/12

Jake e Kyra vivem com Mika, a sua filha adoptiva, e Yang, um andróide que ocupa o lugar de irmão mais velho e companheiro da menina. Mika é totalmente devotada a Yang. Por isso, quando ele deixa de funcionar, ela fica de coração partido. Preocupado, o pai faz de tudo para o recuperar, não desistindo mesmo quando o fabricante o aconselha a substituí-lo. É assim que encontra um mecânico especializado em robótica que, ao desmontá-lo, encontra uma câmara ligada ao seu sistema de memória. Jake vai para casa e vê as memórias de Yang, que lhe vão mostrar trechos da sua existência em várias famílias onde esteve, revelando um lado totalmente desconhecido e enternecedor. Estreado no Festival de Cinema de Cannes, um drama de ficção científica realizado por Kogonada. Colin Farrell, Jodie Turner-Smith, Justin H. Min, Malea Emma Tjandrawidjaja e Haley Lu Richardson assumem as personagens.

Jane por Charlotte

de Charlotte Gainsbourg

Dia 19-10 18h30 (PA)
Presença de Ana Deus
Jane par Charlotte (França, documentário, 2021, 85 min) M/12

Com o estremecimento do tempo a passar, Charlotte Gainsbourg começou a olhar para a mãe, Jane Birkin, de forma inaudita, ambas ultrapassando uma reserva partilhada. Pela lente da câmara, expõem-se uma à outra e dão espaço a uma relação entre mãe e filha.

As Irmãs Macaluso

de Emma Dante

Dia 20-10 18h30 (PA)
Presença de Jorge Palinhos
Le Sorelle Macaluso (Itália, ficção, 2020, 90 min) M/14

Maria, Pinucia, Lia, Katia e Antonella Macaluso são irmãs e vivem no último andar de um prédio da periferia de Palermo (Itália). Este filme acompanha as suas vidas ao longo do tempo, desde a infância à velhice, com todos os eventos, felizes ou trágicos, que vão acontecendo pelo meio e que vão alterando, aos poucos, as suas personalidades. Em competição no Festival de Cinema de Veneza, um filme dramático realizado e escrito por Emma Dante, que tem por base a peça homónima escrita por si em 2014.

Gato Preto Gato Branco

de Emir Kusturica

Dia 21-10 21h30 (GA)
Presença de Miguel Bandeira
Crna Macka, Beli Macor (Alemanha/Jugoslávia/França, ficção, 1998, 125 min) M/12

Um grupo de ciganos vive junto ao Danúbio. Matko, um pequeno vigarista, vive com o filho de 17 anos, Zare. Depois de um negócio que corre mal, fica com uma dívida com o gangster Dadan, padrinho da comunidade. Dadan tem uma irmã, Ladybird, para quem quer desesperadamente arranjar marido. A solução é então casar os dois: Zare e Ladybird. Uma comédia realizada por Emir Kusturica, vencedora do Leão de Prata no Festival de Veneza, apresentada em cópia digital restaurada.

A abrir a sessão será apresentado em estreia VIZINHOS (40 min) de Pedro Neves. Filmado dentro do edifício das Lameiras, reúne testemunhos de moradores e vizinhos de várias gerações, numa produção do Teatro da Didascália e da Red Desert.

Gritos

de Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett

Dia 21-10 23h59 (PA)
Scream (EUA, ficção, 2021, 100 min) M/16

Passados 25 anos desde que a primeira onda de terríveis homicídios assolou Woodsboro, na Califórnia, parece que o psicopata mascarado que recria as mortes dos filmes de terror está de regresso. Sidney Prescott, uma das poucas sobreviventes do assassino e uma das suas obsessões, regressa à cidade, determinada a encontrar o culpado e salvar uma nova geração de adolescentes da encenação macabra que os espera. Este é o quinto episódio da saga “Gritos” iniciada em 1996 por Wes Craven (também realizador de “Pesadelo em Elm Street” ou “A Maldição dos Mortos-Vivos”).

Estrada Fora

de Panah Panahi

Dia 21-01 15h30 (PA)
Presença de Carlos Natálio
Jaddeh Khaki (Irão, ficção, 2021, 95 min) M/12

Uma família caótica e terna em viagem por uma paisagem acidentada. Mas para onde vão? No banco de trás, o pai tem uma perna partida, mas está mesmo magoada? A mãe tenta rir mas mal consegue conter as lágrimas. O miúdo não pára de cantar. E todos estão preocupados com o cão doente e irritados uns com os outros. Apenas o misterioso irmão mais velho parece calmo. Estreia na realização do iraniano Panah Panahi – filho de Jafar Panahi, com quem costuma trabalhar –, esta comédia dramática acompanha uma família numa viagem de carro por terrenos pouco convidativos. São os pais, os dois filhos e as tensões dentro do carro que acabarão por emergir.

Alcarràs

de Carla Simón

Dia 21-01 17h30 (PA)
(Espanha/Itália, ficção, 2022, 120 min) M/12

Há já três gerações que a família Solé sobrevive do cultivo de pessegueiros na pequena cidade de Alcarràs (Catalunha, Espanha). As suas vidas, até aí pacatas, mudam quando recebem uma notificação do senhorio que lhes dá até ao final do Verão para abandonar a terra. O proprietário dos terrenos tenciona arrancar todas as árvores para que ali possa ser feita a instalação de painéis solares. Essa notícia vai abalar todos os elementos da família que, apesar de muito unidos, têm formas diferentes de abordar o futuro ou de encontrar novas formas de sustento. Essa insegurança, vai dar origem a desavenças difíceis de gerir. Um drama sobre solidariedade e relações familiares realizado pela catalã Carla Simón – que, tal como no filme “Verão 1993”, se volta a inspirar na sua infância – segundo um argumento seu e de Arnau Vilaró. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim, “Alcarràs” conta com um grupo de actores não-profissionais provenientes da região onde decorreram as filmagens.