William David Friedkin nasceu a 29 de Agosto de 1935, na cidade de Chicago, filho de Louis Friedkin e Rachael Green, judeus imigrantes da Ucrânia. Como Sidney Lumet, Arthur Penn, Robert Altman, John Frankenheimer ou Sam Peckinpah, começou por trabalhar para a televisão, realizando “The People vs. Paul Crump” em 1962, documentário que não chegou a ser transmitido, mas que catapultou ainda assim a sua carreira e fez com que conseguisse um agente e uma oportunidade para realizar três anos depois um episódio da série “The Alfred Hitchcock Hour”, “Off Season”, com John Gavin e Richard Jaeckel nos principais papéis. A sua grande oportunidade chegou com “Os Incorruptíveis Contra a Droga”, enorme sucesso de bilheteira com Gene Hackman, Roy Scheider e Fernando Rey que ganhou cinco Óscares da Academia em 1971, incluindo os de Melhor Filme, Melhor Realizador e Melhor Actor para Hackman. Conhecido principalmente por esse filme, “O Exorcista”, “O Comboio do Medo” e “Viver e Morrer em Los Angeles”, “Hurricane” Billy conseguiu levar a cabo uma extensa carreira dos anos sessenta até ao ano passado, realizando dois óptimos filmes com Tommy Lee Jones já neste milénio, “Compromisso de Honra” e “O Batedor”. Os três grandes eixos das suas obsessões parecem situar-se entre as perseguições automóveis e humanas, os exorcismos católicos e os dramas de tribunal. A sua última longa-metragem foi “The Caine Mutiny Court-Martial”, ainda não estreado entre nós e filmado no início de 2023. Faleceu a 7 de Agosto de 2023, em Los Angeles.
João Palhares
Todo o nervo de Friedkin num dos mais célebres filmes da década de 70 (premiado com cinco óscares). Um policial urbano e violento, sobre o tráfico de heroína em Nova Iorque. As cenas de perseguição automóvel ficaram famosas, e Gene Hackman compôs aqui uma das mais memoráveis personagens da sua carreira: o detetive Popeye Doyle.
Uma adaptação americana do romance francês Le Salaire de la Peur (Georges Arnaud, 1950) e um dos favoritos de Friedkin. Um thriller cuja “aura de culto” emergiu nos últimos anos e foi ampliado pelo recente restauro digital do filme. No seu fulcro narrativo está o encontro de quatro personagens acossadas algures na América Latina, encarregues do transporte de nitroglicerina em plena selva, ao volante de velhos camiões face a uma eventual catástrofe petrolífera que tentam impedir. “O ‘feiticeiro’ é um lagarto maléfico e neste caso o lagarto maléfico é o destino” (Friedkin). Protagonizado por Roy Scheider.
Um dos grandes êxitos comerciais dos anos setenta, que escandalizou e provocou medo nas plateias. Uma adolescente torna-se agressiva, passa a dizer obscenidades e adquire uma força física descomunal. A sua mãe pensa que ela sofre de perturbações mentais. Mais tarde, em desespero de causa, pedirá ajuda a um padre exorcista. Excelentes trucagens e Oscar de melhor argumento. Cerca de trinta anos depois da estreia de O Exorcista, Friedkin montaria a versão a apresentar, um director’s cut com mais onze minutos.
“Al Pacino is cruising for a killer”, apregoava o cartaz do Friedkin de um quente verão nova-iorquino que na sua filmografia “abriu” com alguma polémica os anos oitenta, vagamente baseado no romance homónimo do jornalista do The New York Times Gerald Walker sobre o caso de um serial killer que perseguia homossexuais preferencialmente vestidos de cabedal. O título joga com o duplo sentido de “cruising” que no original tanto pode descrever o trabalho de patrulha policial como o engate sexual. Uma incursão na subcultura nova-iorquina, com Al Pacino no papel de um detetive que nela mergulha à paisana para defrontar, entre outros, os seus próprios demónios.